Bigorna na Cabeça!

sexta-feira, setembro 15, 2006

Wolf Parade, o cão retardado de 4 cabeças

Que o Canadá nunca foi um grande expoente na cena artística, não é segredo algum. Mas é claro o fato de que na época em que se acreditava nisso, o melhor ainda estaria por vir.

E o Arcade fire quem o diga, depois de surgir de forma praticamente anônima, a banda em pouco tempo dominou a internet, fez 3 apresentações no Brasil (Rio, SP e POA) e hoje é umas das bandas atuais mais conceituadas e promissoras no mundo, fazem apresentações por todos os cantos e são imensamente aclamados em qualquer lugar que estejam. Além desta, ainda temos como exemplo o The Dears e o Broken Social Scene.

Tive a oportunidade, em 2005, de assistir uma apresentação do Arcade Fire em SP; confesso que depois deles, não me lembro do Kings of Leon e o Strokes, que fecharam, respectivamente, o Tim Festival de 2005. Claro que Strokes e o KOL são duas de minhas bandas preferidas :)

De não muito longe do Arcade Fire, aliás, são vizinhos, vem o Wolf Parade. A localização é Quebéc, Montreal. O Quebéc é a maior província do Canadá (A 2ª mais habitada), também possui a 2ª maior cidade do país, Montreal. O idioma oficial é o francês, por isso é comum artistas de lá usarem o idioma para composição e interpretação de, pelo menos, algumas de suas canções.

hoje em dia é muito comum bandas independentes estourarem em pouco tempo de carreia, e a grande responsável por isso, é a Internet; isso me lembra, com bastante tom de piada, o fato de bandas como o Metallica e Offspring abominarem e tentarem à todo custo destruir todos aqueles que cultivavam a tal MP3 e o conceito de "consuma sem pagar". Claro que não estou sugerindo, de forma alguma, que as pessoas parem de comprar discos e baixem mp3s até seus HDs explodirem; nada como ter o CD, físico, nas mãos. Também sou um dos que pensam, sem demagogia, no "Baixou e gostou? Compre!". Também não contesto a atitude de reprovação e indignação daqueles que não gostam de gravar um disco e vê-lo, uma semana antes do lançamento, disponível para download na internet.

* Gostaria de deixar bem claro aqui, que não tenho nada contra essas bandas, contra os gêneros e muito menos contra os fãs. Não quero de forma alguma criar desavenças entre os fãs de tais bandas.

Wolf Parade, formada em 2003, não foi exceção: a banda surgiu de forma mais surpreendente e rápida possível na cena artística canadense. Seus integrantes são Spencer Krug (teclados e vocais), Dan Boeckert (guitarras e vocais), Arlen Thompson (bateria) e Hadji Bakara (teclados, eletrônica).
Spencer Krug, líder da banda, já esteve na formação de bandas como Frog Eyes (foi um dos fundadores) e Destroyer, com qual ainda mantem projetos (esta já abriu um show local para o Arcade Fire). Dan Boecker integrava a formação do, já não mais existente, Atlas Strategic quando foi convidado, por Spencer, a se juntar à banda. Arlen Thompson viria depois para assumir as baquetas. Hadji Bakara com seus sintetizadores, foi o último a incorporar à banda.

A banda lançou seu primeiro disco em 2005, pelo selo "Sub Pop"; "Apologies To Queen Mary", parcialmente produzido por Isaac Brock, líder do Modest Mouse. O disco possui composições e interpretações dividas entre Spencer Krug e Dan Boeckert. Aliás, este dois começam a se destacar pela forma com que interpretam suas canções.
As músicas compõem uma grande harmonia entre si; tristeza, melancolia e angústia contrastam com outros temas mais ligados à relacionamentos.

Alguns promos e um EP lançado de forma independente em 2003, também constam no currículo da banda, que já foi definida, pelos próprios integrantes, como "Um cão retardado com quatro cabeças". Atualmente eles rodam o mundo em turnê de promoção do disco de estréia. O primeiro show, como se já não houvessem tantas familiaridades, foi uma abertura para o Arcade Fire. Aliás, não seria má idéia o Wolf Parade, à exemplo do Arcade Fire, vir logo fazer algumas apresentações no Brasil.

Vários projetos ligados à banda estão previstos para serem lançados em 2006: Spencer Krug mantem firme e forte seu projeto paralelo, o Sunset Rubdown. Dan Krueger também toca o seu projeto paralelo, Handsome Furs. O Wolf Parade continua fazendo apresentações por todo canto.

Parece mesmo que o Canadá estava guardando, para a última hora, o melhor do cenário musical. Hoje, não só Quebéc, que por muitos é considerada uma área separada do Canadá, mas também todo o país, podem comemorar e se orgulhar por esta façanha que não dá sinal algum de que vai acabar por aí.

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quarta-feira, setembro 06, 2006

A Vida Secreta das Palavras (La Vida Secreta de las Palabras)

ATENÇÃO: Este artigo não contém Spoilers!

Já não é de hoje que Isabel Coixet tem grande importância para o cinema espanhol. A diretora e roteirista catalã é conceituada e reconhecida não só pela produção de excelentes obras, mas por sua maneira singular de explorar com bastante delicadeza e relevância sentimentos como o amor e amizade, a tristeza e melancolia, saudade e solidão, temores e aflições; sentimentos comuns ao ser humano.

Nascida em Barcelona (Catalunha) em 9 de abril de 1962 e formada em História pela Universidade de Barcelona, antes de entrar para o ramo do cinema, trabalhou como jornalista na revista "Fotogramas" e que mesmo com a carreira de cineasta, vem realizando diversos trabalhos de publicidade.
Em seu currículo constam obras brilhantes como "Hay motivo (Há Motivo)" de 2004, "Mi vida sin mí (Minha vida sem mim)" de 2003 (Primeira produção com idioma inglês), "A los que aman (Aos que amam)" de 1998, "Cosas que nunca te dije (Coisas que Nunca te Disse )" de 1995, "Demasiado viejo para morir joven" de 1988; dirigidos e escritos por ela, com exceção de "Hay motivo (Há Motivo)".

A Catalã vem conquistando diversos prêmios ao longo de sua carreira, dentre eles o mais importante é o Goya, conceituada Academia de Prêmios Anuais Espanhola. Sua mais premiada produção foi o filme "Mi vida sin mí (Minha vida sem mim)" de 2003, que conquistou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original.

Sua mais nova obra é o filme "A Vida Secreta das Palavras (La Vida Secreta de las Palabras - The Secret Life of Words), segunda produção em idioma inglês da cineasta, escrita e dirigida por ela mesma. O filme foi o grande vencedor do Prêmio Goya no ano (2006), recebendo os prêmios por Melhor Filme, Melhor Diretora, Melhor Roteiro Original e Melhor Direção de Produção (Esther Garcia).


Qual é a relação do título com o filme? Assim como a própria Coixet costuma dizer, é do título que vem o tema para construção do enredo, da história.
O poder das palavras é imenso, elas reconfortam alguém em um momento de aflição e angústia, traz alegria à quem já não consegue sorrir. As palavras são capazes de conquistar a pessoa amada, evitar que alguém tome alguma atitude precipitadamente, as palavras também podem ferir mais do que uma arma de fogo.

Os protagonistas são Hanna (Sarah Polley) - Sensacional e brilhante atriz canadense que já havia trabalhado com Coixet anteriormente em "Minha vida sem mim", no papel de Ann, e por quem eu tenho tanta admiração - e Josef (Tim Robbins), cada um deles guarda segredos que os assombram. Hanna Amiran é uma refugiada de guerra que guarda consigo traumas de proporções absurdas, ela trabalha dedicadamente em uma fábrica têxtil e leva uma vida monótona e solitária tentando conviver com as dores do passado, além disso, Hanna tem um problema de audição o que faz com que ela tenha de usar um aparelho auditivo; aparelho este que ela tem como arma para se defender dos outros, das palavras. Josef é um Operador que trabalha em uma plataforma petrolífera e que sofre um acidente que o causa graves queimaduras e cegueira temporária, como não é exceção, Josef também guarda lembranças dolorosas e traumáticas.


O destino dos dois é traçado quando em uma oportunidade Hanna se desloca, como enfermeira, até a plataforma para cuidar de Josef, até que ele possa ser transferido à um hospital.
A partir daí eles descobrem e aprendem a compartilhar os segredos e temores, confiam um ao outro traumas capazes de destruir sonhos, metas e até a vontade de continuar vivendo, as mais negras e sombrias lembranças que possam existir na mente de uma pessoa. É quando surge o sentimento mais importante e capaz de trazer felicidade à quem já não sonha mais em ser feliz; o amor. O amor, ele faz com que as feridas do passado possam se cicatrizar, e que se não tanto, pelo menos ajuda a amenizar a dor. O amor capaz de dar metas e um novo sentido à vida.

O filme explora com bastante delicadeza sentimentos inerentes ao ser humano e mostra como as pessoas fazem para conviver com as dores do passado, como prosseguir com a vida depois de um momento tão trágico.
É um filme belo com dosagem perfeita de cinismo, melancolia, simplicidade, alegria e humor. A trilha sonora é sensacional, as atuações de Tim Robbins e Sarah Polley, principalmente, são desconcertantes, belíssimas, assim como as de todos os demais integrantes do elenco, que também conta com Javier Cámara, Julie Christie e Leonor Watling (Também contribuiu em "Minha vida sem mim", no papel de Ann) em participação especial.

• Título: A Vida Secreta das Palavras (La Vida Secreta de las Palabras - The Secret Life of Words)
• Gênero: Drama
• Ano de lançamento: 2005
• País origem: Espanha
• Idioma: Inglês
• Locações: Irlanda do Norte e Espanha
• Elenco: Sarah Polley (Hanna), Tim Robbins (Josef), Javier Cámara (Simon), Eddie Marsan (Victor), Steven Mackintosh (Dr. Sullitzer), Julie Christie (Inge), Danny Cunningham (Scott), Emmanuel Idowu (Abdul), Dean Lennox Kelly (Liam), Daniel Mays (Martin), Sverre Anker Ousdal (Dimitri), Leonor Watling (Mulher do amigo de Josef), Reg Wilson (Factory Manager), Peter Wright (Dullman).
• Lançamento no Brasil: Em novembro pela Europa Filmes (Com somente 1 aninho de atraso)

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